24 Jun Quando o preço é a discussão!
De uma forma geral todos nós, no mundo empresarial, gostaríamos de abolir a palavra preço do dicionário… contudo, é este que comanda a atividade económica e financeira das empresas, a sua capacidade de estar no mercado, de evoluir e fazer evoluir os seus principais ativos.
É um sentimento atroz quando pensamos no facto de que o preço é, por vezes, o fator de diferenciação. Isto é uma profunda desvalorização do trabalho que se executa ou do produto que se vende, e não se trata da lei da oferta e da procura, porque por uma questão de status ou até daquilo que determinado produto nos proporciona, nós conseguimos fazer a destrinça entre uma coisa e outra, entre x ou y telemóvel, entre x ou y carro. Mas se assim é, porque é que nos “gabarolamos” de comprar um bom carro e, na mesma proporção, de ter conseguido espremer o preço de um serviço ou produto até ao limite do impraticável?
Quando olho para as últimas notícias do mercado de research, e mesmo tendo por base inovação, novas tendências, etc., o que se fala alto e bom som é que nos devemos preparar para receber cada vez menos por um determinado serviço. Posso confidenciar que, quando dei os primeiros passos na área dos estudos de mercado, cobrava mais do dobro pelo mesmo serviço que hoje executo. Contudo, este serviço é agora muito melhor a todos os níveis! E se por um lado diminuí alguns custos de produção porque a tecnologia é hoje muito melhor e mais acessível que ontem, por outro lado e para conseguir ter colaboradores com salários efetivamente justos e pessoas a trabalhar na rua de forma efetivamente interessada, tenho que negar “n” projetos.
Há sempre alguém que tem no mercado a capacidade de desvalorizar o serviço que presta só para poder ganhar um novo cliente, não pensando de antemão que está a hipotecar o seu presente e o futuro. Quando isto é feito estamos apenas a dizer que conseguimos fazer mais barato que o vizinho do lado, independentemente de isso poder custar ao setor um descrédito generalizado e em primeira linha uma desvalorização absoluta do serviço. Só falta dizer: “isto tem tão pouco interesse que lhe faço de forma gratuita”.
Obviamente que se existe quem venda assim, é porque há quem compre da mesma forma. A realidade é que mesmo reconhecendo diferenças, ainda existem muitas marcas que preferem o preço em detrimento da qualidade. Não há magia no negócio e não se podem fazer omeletas sem ovos.
Sem falar, obviamente, em qualquer tipo de concertação de preços, seria justo fazermo-nos pagar pelo que oferecemos e podermos adequar ofertas a determinados orçamentos.
Se o cliente quer pagar x, não se lhe pode dar o x, y e z. Se o cliente quer pagar x, tem que ter o serviço x. Quiçá a sua necessidade até pode ficar efetivamente satisfeita com esse serviço. Os negócios têm que ser feitos de forma transparente, com cadernos de encargos “translúcidos” e sem entrelinhas, para que se possa orçamentar de forma criteriosa e justa.
Temos de levar os produtos e serviços para um patamar que vá muito além do preço, até porque, como iniciei esta conversa, é feio falar disso.